sábado, 22 de junho de 2013

A PEQUENA PRAÇA

Molina*
Senhora do "Ó"
52x38 cm
250,00€

A PEQUENA PRAÇA

A minha vida tinha tomado a forma da pequena praça
Naquele outono em que a tua morte se organizava meticulosamente
Eu agarrava-me à praça porque tu amavas
A humanidade humilde e nostálgica dos pequenas lojas
Onde os caixeiros dobram e desdobram fitos e fazendas
Eu procurava tornar-me tu porque tu ias morrer
E a vida toda deixava ali de ser a minha
Eu procurava sorrir como tu sorrias
Ao vendedor de jornais ao vendedor de tabaco
E à mulher sem pernas que vendia violetas
Eu pedia à mulher sem pernas que rezasse por ti
Eu acendia velas em todos os altares
Das igrejas que ficam no canto desta praça
Pois mal abri os olhos e vi foi para ler
A vocação do eterno escrita no teu rosto
Eu convocava as ruas os lugares as gentes
Que foram as testemunhas do teu rosto
Para que eles te chamassem para que eles desfizessem
O tecido que a morte entrelaçava em ti


Sophia de Mello Breyner Andresen


*
1926-2002
Nascido em Espanha em 1926 cedo largou pelo mundo tendo vivido em vários locais da Europa e da América. No Brasil deu raizes à sua grande paixão – a Pintura. Aí estuda Belas-Artes e aí ganha elogios da crítica que o apontam como um pintor versátil. É o crescendo do pintor apaixonado entre o “figurativo arquitectónico” que devolve a verdade aos locais que pinta e o “abstracto marcante” pela força do cromático que impõe nas suas telas.
Trazido pelo destino, instala-se em Portugal na década de 60 onde permanece até à actualidade. Portugal torna-se o país que sempre procurou e que o realiza completamente como artista. A vertente de pintor figurativo torna-se mais marcante devido ao seu amor às terras portuguesas. Ninguém pintou mais Portugal do que ele, desde as pequenas aldeias até às grandes cidades, de norte a sul do país. Mantém viva a paixão pelo abstracto como forma de expressão máxima do seu interior de artista.
Em 2000 decide dar um novo fôlego à sua obra de pintor abstracto e quebrar com a imagem exclusiva do figurativo arquitectónico. Pouco conhecida do grande público, esta esteve reservada a coleccionadores. Assim que surge perante o público, a surpresa é tão grande como a aceitação. O mestre da arquitectura portuguesa levada à pintura revela-se naquilo que o fez brotar como grande pintor - a arte do cromático num desafio à própria imaginação. É difícil não ser seduzido por este jogo em que cada cor é como que explorada à exaustão nas suas mais diversas matizes.
Faleceu em Lisboa a 5 de Agosto de 2002 de forma inesperada sem ter tido a felicidade de estar presente na exposição que sempre ambicionou fazer. Viveu, no entanto, a profunda alegria dos três anos que lhe levou a prepará-la.
Realizou várias exposições desde 1980.

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