sábado, 29 de junho de 2013

Espiga Pinto


Espiga Pinto*
“Mapa da Memória Lusíada Canto X”
Serigrafia
1994
36,5x36,5cm
350,00 €

Esta luz é do fogo e das luzentes
Armas com que Albuquerque irá amansando
De Ormuz os Párseos, por seu mal valentes,
Que refusam o jugo honroso e brando.
Ali verão as setas estridentes
Reciprocar-se, a ponta no ar virando
Contra quem as tirou; que Deus peleja
Por quem estende a fé da Madre Igreja.

Camões

*
Escultor-Pintor ESPIGA (Pinto), nasceu em 1940, Vila Viçosa.
Expõe desde 1955, tendo já realizado 80 Exposições Individuais e participado em inúmeras Exposições Colectivas, tendo obras em colecções particulares, em Portugal, Espanha, Inglaterra, França, Estados Unidos...
Prémios:
– Prémio Bienal de São Paulo, Brasil, para cenários do Bailado Gulbenkian, 1973.
– Prémio de Pintura da Academia de Belas Artes de Lisboa, 1987.
– Prémio “Coty” – U. S. A. – “Coin Of The Year”, 2000 – A Melhor Moeda (Comemorativa do Planeta Terra).
– Prémio (Concurso Europeu), para criação do Troféu “50° Aniversário da Regata Internacional dos Grandes Veleiros” – Antuérpia e Lisboa, 2006.
De 1979 a 87 foi Professor de Desenho no IADE – Instituto de Artes Visuais, Design e Marketing, Lisboa.
Sócio da F.I.D.E.M. – Federação Internacional da Medalha.
Académico da Academia Nacional de Belas Artes de Lisboa.
Em 2005 comemorou “50 anos de exposições individuais”.
Representado em:
C.A.M. – Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa;
Museu de Arte Contemporânea, Lisboa; Museu do Desporto, Lisboa...

Ainda era menino quando chegou à pintura. Homem determinado e invulgar, pinta como quem beija. Entrega-se total e perdidamente.
Do Alentejo, onde nasceu, revelador de uma intuição e sensibilidade apuradíssima, vem afirmando a solidez e a singularidade de um percurso que começa e termina na busca e apreensão dos possíveis sentidos da existência.
Memórias de Inês é uma belíssima temática que fixa as trágicas vicissitudes de uma das mais belas e comoventes histórias de amor da Idade Média, aqui contada (cantada) por este ilustre pintor com rigorosa fidelidade à sua memória e grandeza, dando-nos, assim, a exacta dimensão cultural e humana da histórico-lendária personagem. Seguramente que estas peças vão suscitar ou sublinhar pontos de reflexão sobre a especificidade do tema.


O amor, símbolo de continuidade e regeneração, adquire nesta sequência pictórica o seu verdadeiro significado, ou não fosse ele o mais profundo e distintivo elan da humanidade. Aqui, se sente a sua pulsação, em perpétuo movimento regenerador e em variações cromáticas sintonizadas, numa articulação harmoniosa e contínua entre a Terra e o Universo.



O tempo reflecte-se na obra de Espiga, sobretudo na medida em que resiste ao seu poder envolvente, em que lhe opõe uma linguagem pictórica deslumbrante e corajosamente assumida. A memória revela-se essencial para a lenta penetração no imaginário de deuses e anjos...



Inês personifica a heroína trágica de um dos mais célebres episódios amorosos do Ocidente, senão de toda a história da humanidade, sobrelevando em paixão, fatalidade e dramaticidade outros casos similares, como os de Abelardo e Heloísa ou Dante e Beatriz.. A pele de Inês é de uma perfumada e acetinada suavidade. Espiga decora a cor dos seus olhos; contorna, sem ruído, a doçura de seu corpo.

Falamos dos períodos claros, iluminados.
Mas falamos também dos períodos ocultos dessa mesma juventude, de certas dissimulações operadas sobre certos factos, certos sentimentos. Tudo é arrastado pela tempestade profunda e vertiginosa da corrente interior; tudo fica suspenso à superfície, qual força impetuosa de um rio.
Estamos perante mais uma obra-prima de um dos mais geniais (não tenhamos medo das palavras) mestres da pintura portuguesa contemporânea.
A espantosa força lírica e formal da sua pintura exponencia um potencial absoluto de ritmo, cor, rigor, encantamento; de atractivo e fascínio.
A pintura é para ser fruída; para partilhar a criatividade, esse genesíaco exercício de interioridade, tendo por instrumentos as fibras da sensibilidade e a espora mágica da memória.
Instrumentos que, pela mão predestinada do artista, reanimam a figura grácil e desventurada daquela que, no dizer do poeta, depois de morta foi rainha.


Espiga fascina-nos com toda esta sublime grandeza: o mito, a obsessão de Inês nos sonhos de Pedro, o brasão, o ambiente gótico e a chave. A chave de toda esta maravilha move-se na rigorosa e complexa teia geométrica do Pintor.



(Texto publicado no Catálogo da Exposição de Pintura e Escultura - Memórias de Inês, de Espiga Pinto, em Julho de 2001)

in Três Rios Abraçam o Coração


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