Capela*
serigrafia
48x35 cm
175,00€
Vou
falar-vos de uma amiga tão distante tão irmã que
Nos
confundimos uma na outra
Da
história que me contou dentro das quatro paredes
Redondas
como uma lágrima e densas
Como
a solidão de uma cama vazia.
Era
uma vez uma menina
Pobrezinha
mesmo.
Não
nasceu como nascem as outras meninas
Não
foi nem o Espírito Santo
Nem
nasceu numa manjedoura
Nem
veio no bico dourado da cegonha
Nem
veio da terra dos franceses
Nem
veio de dentro de uma abóbora
Nem
sequer de uma folha de couve
Ela
foi assim botada na vida
Assim
tão sem jeito de contar
A
modos que nasceu e viveu dentro de si
E
tornou a nascer e a viver
E
vai morrendo assim devagarinho.
Falou
do Porto velho e sujo
Jardim
da Cordoaria Jardim das Criadas
Magalas
e manguelas rufias
Velhos
senis e cães com fome
Prostitutas
proxenetas e maricas
Onde
as pobres crianças pobres brincavam
Ao
Pilha Galinha Choca
E
ela a fugir da polícia que corria atrás dela
Não
pisar a relva por favor! Ainda faço queixa à tua mãe miúda
Brincavam
ao ana-ina-não-ficas tu eu não
Mas
ela ficava sempre e tiravam a sorte à sorte
E
a sonhar fugia para o lago e com os patos
Repartia
o pão cantava e chorava
As
penas dos patos as nossas penas.
Jardim
da Cordoaria
Jardim
dos meninos sem jardim
Dos
meninos velhos sem infância
Sem
janelas sem sol sem estrelas
Ao
ver os pássaros voar chorava
Por
não poder voar ir pelo céu adentro
Ir
até às estrelas qual pássaro avisador
Ir
onde houvesse jardins mas
Com
crianças mesmo
O
importante era ir e não ficar ali esquecida
E
o velho coreto onde a banda tocava música
Música
ao longe que não entendia mas gostava
Bom
barqueiro bom barqueiro deixai-me passar tenho filhos pequeninos não os posso
criar …
Bazar
dos três vinténs
O
burro vai à feira por três vinténs
Maravilhoso
mundo infantil
Das
crianças bem na vida
Das
crianças família
Mas
não do meu mundo
Não
do Porto que viveu
Lembras-te
daquele narizito
Colado
nos vidros das montras
Por
ironia de nariz colado achatado
E
que chato já o sinto chato
E
é chato ver a vida a correr além do vidro
Ah-ah-ah
minha machadinha quem te pôs a mão sabendo que és minha…
Praça
dos Leões e a água sempre a correr
Leões
alados onde estão as vossas asas
As
vossas capas negras onde estão
Vocês eram a força o saber o futuro
E
sabia ela as suas limitações
E
sabemos nós as nossas frustrações
E
gritou porque foi que toda a ignorância
Toda
a ignorância se alojou em nós
Leões
alados vós sabeis porquê
Sophia!
Em ti convoco a nossa Praça
E
o soldado desconhecido
E
o passarinho que lá encontrei
Cuidou
dele com desvelo
Teve
por caixão uma velha caixa dos sapatos
Dos
velhos sapatos de ver a Deus
E
lá estava a estrela
Mas
de basalto que outra não podia ser
Era
também a estrela do actor António Assumpção (que está nas estrelas)
E
o ceguinho com a menina a cantar
A
cantar as cantigas de cordel
Histórias
de faca e alguidar e chorava
Santa
Mãe que estás no Céu oh mãe
Pede
a Deus pelos teus filhinhos sim
Por
causa da minha madrasta que ela dá cabo de mim
Havia
uma grande loja O Chiado
Fitas
de mil cores tanta coisa linda
Fitas
de mil cores mas só para ver
Ver
como te vejo a ti
De
mil cores se vestia em pensamento
Que
outra coisa não podia ser
Houve
sempre uma vitrine! E o Rei dos Botões e as continhas
Meu
senhor por favor dez tostões de continhas pra enfiar
Minha
menina mas de que cor
De
mil cores meu senhor
Enfio
enfiarei sentada numa almofada enfio continhas d’ouro
Salta
cá minha esposada.
Santa
que salta guardava no bolso
O
sonho feito continhas
Santa
que salta manca que manca
Oh
condessa condessinha
Condessa
de Aragão…
Tim
tim Havia o carro eléctrico era amarelo amarelinho
Se
alguma janela aberta o incomoda
Peça
ao revisor que feche.
Bancos
de palhinha era amarelinho
Senhores
Passageiros chegar a frente p. f.
E
eram encontrões, empurrões e apalpões
Olha
o filho da… que me apalpou o cú
E
o mar lá estava a perseguir-me e eu a ele
E
ele lá estava
E
já havia rochas sol mar
Era
tão bom ir até lá longe
Ir
até a foz ver o mar
E
trazer o sal na minha boca e aí ficar Até hoje
E
dizia-me Sabem o que é viver no meu Porto
Não
neste Porto mas no meu Porto
Com
as suas noites cheias de sombras e de história
E
das sombras profundas nos olhos do Sr. José
O
barbeiro poeta lá da rua
E
a paixão diziam por uma menina rica
Que
estava sempre escondida pela cortina
E
a batateira sempre a espantar a canalha espantada
Carlinhos
da Sé atarefado de cesta no braço
A
vender lindos aventais de chita
Eram
lindos os retalhinhos para as bonecas
Era
arreliado pela canalha
Gostávamos
um do outro uma piscadela de olho
O
Palácio de Cristal agora feito um espremedor
Ir
lá era dia de festa ver os cisnes no lago
Flores
e animais comer a língua da sogra
Barquilhos
camarilos tremoços
A
fava rica camarinhas ou pérolas
Um
sorvete de dois tostões do feitio do meu sonho um barco
Pirolitos
e com a bolinha jogava ao berlinde era bom
Sou
primas sou sigas sou trigas
Igrejas
do Carmo São Bento Congregados
Onde
mulheres gastas cor das pedras
Crianças
velhas por viver
Olha
O Notícias Janeiro Comércio
Meninas
mulheres cheias de barriga até aos dentes
Pelas
crianças flor em botão
Pelos
velhinhos sem lar nem pão
Cheias
até à ponta dos cabelos incertos
Cheias
de fome e de filhos com fome
Ó
home deixas-me pra’qui botada assinhe
O
seu homem tinha morrido estrubeculoso num baz home dizia ela
Ó
qrida lebeme um raminho de bioletas
Pela
alminha de quem lá tenhe
Quinda
não me estriei minha qrida
Vendiam
atacadores pentes
Esticadores
pr’ós colarinhos Quem quer
Com
os seus pregões feitos gemidos Quem quer E ninguém queria
Fui
ao São João à Lapa ai da Lapa fui ao Bonfim
Estava
tudo enfeitado com bandeirinhas de cetim
São
João com alho porro manjericos
Erva
cidreira cravos vermelhos e farturas
Doce
da Teixeira a regueifa quentinha com manteiga Vianeza
O
cabrito a assar na padaria com batatinhas
A
sardinha fresca na brasa nas Fontainhas
O
Notícias a sair quentinho com as quadras sanjoaninas
as
orvalhadas e a murrinha e os arrolados
Oh
Sr. Polícia cheire o meu alho Porra
Foge
rapariga se te apanho nico-te
E
saltavam a fogueira e saltava o coração Olha o balão
Balão
cai cai na quinta do teu pai…
E
os balões a pontear o céu e as cascatas com os santinhos dos santeiros de Gaia
Enfeitados
com pratinhas brilhantes de todas as cores
E
papeizinhos de rebuçados Era tão linda a minha cascata
Oh
meu Senhor dê-me um tostãozinho para o São João
Oh
minha linda menina mas o São João também come
Oh
carago é para a cascata meu Senhor
Toma
lá cinco tostões menina
Sou
primas sou sigas sou trigas
E
a correr, lá íamos comprar cinco tostões de Vitórias
Oh
pá já tens o bacalhau? Não? Oh…
E
o cabrito? E a cobaia? Oh porra qu’azar
E
alho porro senhora comadre dar o alho a quem sabe…
Mas
o mais difícil é falar da minha rua
Por
pudor ou receio de vos chocar
Não
me reconhecem lá na minha rua prisão
Rua
fria feia rua sombria
Rua
de ódios de raiva funda
Calada
bem dentro de mim
Rua
das vidas mal vividas
Rua
sem calor nas almas feitas de pedra
Olhem-me
bem de frente Reconhecem-me?
A
minha rua suja e pobre
Rua
de pouca gente boa sem história
Rua
dos obscuros sentires
Rua
sempre molhada escorregadia
Rua
dos amantes do amor por tabela
Rua
do amor vendido no vão de uma escada
Rua
do amor alugado nos sexos apodrecidos
Rua
do desamor rua do ciúme
Rua
dos cães sem dono e sem coleira
Rua
dos mendigos esperando as sopas
Rua
das esperas nas esquinas
Rua
da cadeia sem cadeias que nos liguem a vida
Sou
o que resta dessa rua sem sol
A
minha rua era assim
Aurora Gaia
*
JÚLIO
CAPELA CRUZ
Nome
artístico CAPELA
Nasceu
no Porto, 2/7/1945. Licenciatura em Pintura – Fac. Belas Artes Porto, 1970.
ACTIVIDADE
ARTÍSTICA
2011
Exposição
individual Ordem dos Médicos, Porto.
Exposição
colectiva Galeria Olhos D’Arte, Porto.
Exposição-
Leilão Cooperativa Artistas de Gaia.
XXVI
Exposição colectiva dos Sócios da Árvore.
2010
Execução
de 3 séries Serigrafias para a AICCOPN. Exposição – Leilão Artistas de Gaia e
Colectiva de trabalhos recentes.
XXV
Exposição colectiva dos Sócios da Árvore.
2009
Exp.
Col. Coop. Árvore.
Exp.
Individual Clube de Golf Ponte de Lima
Exp.
Individual Hotel Áxis Viana do Castelo.
Exp.
Colectiva “Ao redor do Touro” Galeria Vieira Portuense, Porto.
2008
Exp.
Col. Gal. Projecto, V. N. Cerveira.
Execução
de 4 Pinturas – alusivas aos 750 anos Foral V. Castelo.
Exp.
Individual Galeria da Câmara Municipal de Caminha.
2007
Exp.
Col. “ Arte no papel” Gal. Interatrium. Porto.
Exp.
“Espólio de Arte, Inst. Politécnico V. Castelo”, ”in memoriam” ao Prof. Lima de
Carvalho.
2006
Exp.
Col. “ O Porto no séc XXI” Gal. Interatrium.
2001
Exp.
Casa Crivos, Braga.
2000
Exp.
Col., II Bienal de Artes Plásticas, Maia.
1996
Ed.
Serigrafia Temática sobre o Douro para Congresso Internacional Estomatologia.
Exp.
Ind., Vigo, BBV.
1995
Exp.
Col. Bienal de Pontault-Combault. França.
Exp.
Gal. Cordeiros, Porto.
1993
Exp.
“Cidade do Porto”, Congresso de Cardiologia, Porto.
Execução
de um painel de azulejos em Viana do Castelo.
1991
Exp.
Ind., C. M. Felgueiras.
II
Exp. Artes Plásticas, Gov. C. V. Castelo.
Serigrafia
para a AIP.
Part.
Simpósio Offset Arte, V. P. Âncora
1990
Men. Hon. Desenho, 13º Cong. Mundial
Dadores de Sangue.
Exp.
Comem. Invenção do Lápis, Coop. Árvore.
Exp.
Ind. Gal. Interatrium, Porto.
1989
1º
Prémio Pintura, Palácio Nacional de Sintra.
Exp.
“Lisbon and Surrounding, Artística”, Lisboa.
1988
Exp.
“Porto em aguarela” Gal. Barredo, Porto.
Exp.
Col. Pintura do B.T.A.
1986
Exp.
“Doze Aguarelistas do Porto”, Galeria Roma e Pavia, Porto.
1º
Cong. Int. Rio Douro.
1985
Operação
“Ensino Árvore “Palácio de Cristal. Porto
Exp.
Ind. em Amarante.
Exp.
Col., Monte Gordo, C. Estoril, “Artes Plásticas Portuguesas Contemporâneas”
Bordéus.
Exp.
Ind. Galeria Dois-Porto; Pousada D. Dinis, V.N. Cerveira.
II
Bienal de Desenho 85, Árvore, Porto
1984
Prémio
de Desenho Exp. Temática”, V. N. Gaia vista pelos Artistas”
Exp.
Col. Serigrafias-Ferrol. Espanha
1ª
Exp. Artes Plásticas, C. M. Porto.
1983
Exp.
Col. Coop. Árvore.
1982
1º
Prémio no Festival Internacional de Cinema Internimas 82,Lisboa.
1981
Exp.
Col., Galeria Espaço, Porto1980
Exp.
Col. da Árvore, Lisboa.
1978
Realizou
Filmes Raiz Etnográfica
1º
Prémio Internacional de Cinema não-profissional do Algarve.
1975
Exp.
Col. “12 Jovens Artistas” Gal. Espaço, Porto.
Colectiva
Encontros Internacionais de Arte, V. Castelo, (Inicio Bienais V. N. Cerveira).
1972
Colecção
de Posters em Vigo.
1969
Experiências
de Pintura em Cinema Animação
Exp.
Magnas 1965 a 68, aluno da ESBAP
Participação
em diversas Bienais de V. N. Cerveira
Representação
em Colecções Particulares, nomeadamente:
Banco
Espírito Santos, Banco Português de Investimento, Banif, Banco Bilbao, Banco
Totta e Açores, Caixa Geral de Crédito Agrícola, Caixa Geral de Depósitos.
Associação
Industrial Portuense, Associação Industrial e Obras Oúblicas do Norte, AICCOPN
Câmara
Municipal de Felgueiras, Câmara Municipal de Viana do Castelo, Instituto
Politécnico de Viana do Castelo.
Coleção
de Ernest Lieblich
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