Serigrafia
53x25 cm
230,00 €
Poema
do Homem Só
Sós,
irremediavelmente
sós,
como
um astro perdido que arrefece.
Todos
passam por nós
e
ninguém nos conhece.
Os
que passam e os que ficam.
Todos
se desconhecem.
Os
astros nada explicam:
Arrefecem
Nesta
envolvente solidão compacta,
quer
se grite ou não se grite,
nenhum
dar-se de outro se refracta,
nehum
ser nós se transmite.
Quem
sente o meu sentimento
sou
eu só, e mais ninguém.
Quem
sofre o meu sofrimento
sou
eu só, e mais ninguém.
Quem
estremece este meu estremecimento
sou
eu só, e mais ninguém.
Dão-se
os lábios, dão-se os braços
dão-se
os olhos, dão-se os dedos,
bocetas
de mil segredos
dão-se
em pasmados compassos;
dão-se
as noites, e dão-se os dias,
dão-se
aflitivas esmolas,
abrem-se
e dão-se as corolas
breves
das carnes macias;
dão-se
os nervos, dá-se a vida,
dá-se
o sangue gota a gota,
como
uma braçada rota
dá-se
tudo e nada fica.
Mas
este íntimo secreto
que
no silêncio concreto,
este
oferecer-se de dentro
num
esgotamento completo,
este
ser-se sem disfarce,
virgem
de mal e de bem,
este
dar-se, este entregar-se,
descobrir-se,
e desflorar-se,
é
nosso de mais ninguém.
António Gedeão
*
Ariosto Madureira, radicado em Vila Nova de Gaia.
Ariosto Madureira, radicado em Vila Nova de Gaia.
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