sábado, 29 de junho de 2013

António Sampaio

António Sampaio*
"Espantalho crucificado"
Serigrafia
39x49 cm
450,00 €


O Maestro Sacode a Batuta

O maestro sacode a batuta,
A lânguida e triste a música rompe ...

Lembra-me a minha infância, aquele dia
Em que eu brincava ao pé dum muro de quintal
Atirando-lhe com, uma bola que tinha dum lado
O deslizar dum cão verde, e do outro lado
Um cavalo azul a correr com um jockey amarelo ...

Prossegue a música, e eis na minha infância
De repente entre mim e o maestro, muro branco,
Vai e vem a bola, ora um cão verde,
Ora um cavalo azul com um jockey amarelo...

Todo o teatro é o meu quintal, a minha infância
Está em todos os lugares e a bola vem a tocar música,
Uma música triste e vaga que passeia no meu quintal
Vestida de cão verde tornando-se jockey amarelo...
(Tão rápida gira a bola entre mim e os músicos...)

Atiro-a de encontra à minha infância e ela
Atravessa o teatro todo que está aos meus pés
A brincar com um jockey amarelo e um cão verde
E um cavalo azul que aparece por cima do muro
Do meu quintal... E a música atira com bolas
À minha infância... E o muro do quintal é feito de gestos
De batuta e rotações confusas de cães verdes
E cavalos azuis e jockeys amarelos ...

Todo o teatro é um muro branco de música
Por onde um cão verde corre atrás de minha saudade
Da minha infância, cavalo azul com um jockey amarelo...

E dum lado para o outro, da direita para a esquerda,
Donde há árvores e entre os ramos ao pé da copa
Com orquestras a tocar música,
Para onde há filas de bolas na loja onde a comprei
E o homem da loja sorri entre as memórias da minha infância...

E a música cessa como um muro que desaba,
A bola rola pelo despenhadeiro dos meus sonhos interrompidos,
E do alto dum cavalo azul, o maestro, jockey amarelo tornando-se preto,
Agradece, pousando a batuta em cima da fuga dum muro,
E curva-se, sorrindo, com uma bola branca em cima da cabeça,
Bola branca que lhe desaparece pelas costas abaixo...


Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"

*
1916 – Nasce em V. N. Gaia, António Assunção Sampaio;
1932 – Colabora com outros jovens artistas na Exposição Colonial Portuguesa;
1941 – Realiza no antigo salão “Silva Porto” a sua 1ª exposição;
1942 – Participa juntamente com Augusto Gomes e outros artistas na VII Missão Estética em Bragança;
1944 – Finaliza o Curso de Pintura na Escola Superior de Belas-Artes do Porto, onde foi aluno bolseiro e Prémio “Rodrigues Soares”. Ainda estudante fez parte do “Grupo dos Independentes”;
1948 – Em França frequenta a Escola de Belas Artes de Paris, aprendendo a técnica de fresco sob a orientação de Duco de la Haix e as academias “Grand Chaumière” e “Julien” e o Atlier do Pintor André Lothe.
Faz várias exposições individuais no país, na Inglaterra, nos Estados Unidos e participa em quase todas as Bienais de Arte Moderna.
1954 – Funda juntamente com Jaime Isidoro a “Academia e Galeria Domingos Alvarez”;
1954/55 – Orienta a Escola de Cerâmica de Viana do Castelo;
Durante treze anos foi professor na Escola de Artes Decorativas Soares dos Reis, no Porto.
Prémios:
1945 – “António Carneiro” 2º Prémio de aguarela na Exposição dos Artistas Metropolitano em Angola, Medalhas da S. N. B. A.;
1952 – “Henrique Pousão” Menção Honrosa (cerâmica) 2ª Exposição de “Arte Moderna” de Viana do Castelo. Medalha de prata no 1º Salão do Algarve, entre outros;
Está representado no Museu Soares dos Reis, Museu Abade de Baçal, Museu de Amarante, Museu da Guarda, Museu de Ovar, Turismo de Matosinhos, e em várias colecções e galerias particulares portuguesas, espanholas, francesas, holandesas, dinamarquesas, norueguesas, norte-americanas, inglesas e brasileiras.

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