sábado, 29 de junho de 2013

Carlos Dugos

Carlos Dugos
“As Três Pirâmides“
Serigrafia
49,5x35 cm
150,00 €

“Pára de ficar rezando e batendo o peito!

O que eu quero que faças é que saias pelo mundo e desfrutes de tua vida.
Eu quero que gozes, cantes, te divirtas e que desfrutes de tudo o que Eu fiz para ti.
Pára de ir a esses templos lúgubres, obscuros e frios que tu mesmo construíste e que acreditas ser a minha casa.
Minha casa está nas montanhas, nos bosques, nos rios, nos lagos, nas praias.
Aí é onde Eu vivo e aí expresso meu amor por ti.
Pára de me culpar da tua vida miserável: Eu nunca te disse que há algo mau em ti ou que eras um pecador, ou que tua sexualidade fosse algo mau.
O sexo é um presente que Eu te dei e com o qual podes expressar teu amor, teu êxtase, tua alegria.
Assim, não me culpes por tudo o que te fizeram crer.
Pára de ficar lendo supostas escrituras sagradas que nada têm a ver comigo.
Se não me podes ler num amanhecer, numa paisagem, no olhar de teus amigos, nos olhos de teu filhinho...
Não me encontrarás em nenhum livro! Confia em mim e deixa de me pedir.
Tu vais me dizer como fazer meu trabalho?
Pára de ter tanto medo de mim.
Eu não te julgo, nem te critico, nem me irrito, nem te incomodo, nem te castigo.
Eu sou puro amor.
Pára de me pedir perdão. Não há nada a perdoar. Se Eu te fiz...
Eu te enchi de paixões, de limitações, de prazeres, de sentimentos, de necessidades, de incoerências, de livre-arbítrio.
Como te posso culpar se respondes a algo que eu pus em ti?
Como te posso castigar por seres como és, se Eu sou quem te fez?
Crês que eu poderia criar um lugar para queimar a todos meus filhos que não se comportem bem, pelo resto da eternidade?
Que tipo de Deus pode fazer isso?
Esquece qualquer tipo de mandamento, qualquer tipo de lei; essas são artimanhas para te manipular, para te controlar, que só geram culpa em ti.
Respeita teu próximo e não faças o que não queiras para ti.
A única coisa que te peço é que prestes atenção à tua vida, que teu estado de alerta seja teu guia.
Esta vida não é uma prova, nem um degrau, nem um passo no caminho, nem um ensaio, nem um prelúdio para o paraíso.
Esta vida é a única coisa que há aqui e agora, e a única coisa que precisas.
Eu te fiz absolutamente livre.
Não há prêmios nem castigos. Não há pecados nem virtudes.
Ninguém leva um placar.

Ninguém leva um registro.
Tu és absolutamente livre para fazer da tua vida um céu ou um inferno.
Não te poderia dizer se há algo depois desta vida, mas posso te dar um conselho.
Vive como se não o houvesse.
Como se esta fosse tua única oportunidade de aproveitar, de amar, de existir.
Assim, se não há nada, terás aproveitado da oportunidade que te dei.
E se houver, tem certeza que Eu não vou te perguntar se foste comportado ou não.
Eu vou te perguntar se tu gostaste, se te divertiste... Do que mais gostaste? O que aprendeste?
Pára de crer em mim - crer é supor, adivinhar, imaginar.
Eu não quero que acredites em mim.
Quero que me sintas em ti.
Quero que me sintas em ti quando beijas tua amada, quando agasalhas tua filhinha, quando acaricias teu cachorro, quando tomas banho no mar.
Pára de louvar-me!
Que tipo de Deus ególatra tu acreditas que Eu seja?
Me aborrece que me louvem. Me cansa que agradeçam.
Tu te sentes grato?
Demonstra-o cuidando de ti, de tua saúde, de tuas relações, do mundo.
Te sentes olhado, surpreendido?...
Expressa tua alegria! Esse é o jeito de me louvar.
Pára de complicar as coisas e de repetir como papagaio o que te ensinaram sobre mim.
A única certeza é que tu estás aqui, que estás vivo, e que este mundo está cheio de maravilhas.
Para que precisas de mais milagres?
Para que tantas explicações?
Não me procures fora!
Não me acharás.
Procura-me dentro... aí é que estou, batendo em ti.


Baruch Spinoza (1632 - 1677)

SUMÁRIO BIOGRÁFICO
Carlos Dugos nasceu em Lisboa, em 1942; os seus primeiros trabalhos de pintura datam de 1957.
No ano seguinte foi viver para Lourenço Marques, então capital de Moçambique. Aí frequentou a escola de Arte - Núcleo de Arte, dirigida pelo pintor João Ayres, trabalhando na companhia de Malangatana, José Júlio, Álvaro Passos e outros artistas moçambicanos.
Por essa época, expôs várias vezes, individual e colectivamente em Lourenço Marques e Joanesburgo.
Regressou definitivamente a Portugal em 1967, instalando-se em Lisboa onde montou atelier, dedicando-se em especial ao apuro técnico do óleo.
Em 1974-75 viajou pela Europa residindo sucessivamente em Zurique e Madrid, contactando com diversos artistas, galerias e museus. De volta a Portugal passou longas temporadas em Sintra e na Ericeira, desenvolvendo um profundo estudo do simbolismo e da Tradição esotérica ocidental. Surgem, por essa altura, os primeiros trabalhos numa linha “metafísica”.
Em 1977 regressa definitivamente a Lisboa. Continuam os estudos de simbólica, entendida como a linguagem espiritual por excelência. Nesse sentido, matricula-se num curso de teologia organizado pelo “Leoninum Orthodoxum Institutum” patrocinado pela Sorbonne. Paralelamente pratica um longo trabalho de oficina, que decide não expor por o considerar de índole puramente experimental; num apontamento de atelier datado de 1980 escreveu: “Em Arte, uma ideia e o sentimento que lhe está associado necessitam de uma linguagem plástica apropriada para lograr expressar-se convenientemente. A procura desse léxico está, para mim, na ordem do dia. Expor pressupõe um discurso coerente, articulado, dominado. Assumir uma responsabilidade pública obriga a dispor dos meios para a cumprir”.
Tal responsabilidade foi assumida em 1984 quando, a convite da Galeria Arcano XXI, participou numa colectiva expondo oito telas. Nesse mesmo ano dirigiu uma nova Galeria de Arte -“São Bento”, organizando o projecto cultural a ela associado.
Em 1988 foi convidado a manter, temporariamente, um atelier no Palácio da Pena. Tratou-se de uma experiência do maior significado, que enriqueceu definitivamente o impulso metafísico na obra do pintor.
A partir de 1985 sucedem-se diversas viagens pela Europa - Holanda, Espanha, Bélgica, Áustria, Itália França e Inglaterra. No mesmo período participa em várias exposições em Lisboa e vê editadas serigrafias. Realiza uma série de estudos cromáticos para edifícios em bairros sociais do Estado, em cidades e vilas portuguesas.
Está representado no Museu da Câmara Municipal do Maputo; na Caixa Geral de Depósitos; no IGAPHE - Instituto do património habitacional do Estado; Grupo Totta; várias instituições públicas; em empresas privadas e em numerosas colecções particulares, portuguesas e estrangeiras.

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